segunda-feira, novembro 06, 2006

Descansem em Paz

Foi com um misto de tristeza e revolta que ouvi hoje a noticia do assalto à missão em Tete, (Moçambique) em que foram mortas duas pessoas, um padre e uma missionária, ficando feridas outras duas.
Nas minhas lides pseudo-cooperacionais (e digo pseudo porque ultimamente a minha atitude pró-cooperacionista está muito áquem do que eu desejaria) tive a oportunidade de conhecer melhor o trabalho dos Leigos para o Desenvolvimento, já que fazem parte de um grupo de ONGDs à qual também pertencem os Médicos do Mundo e a ASP - Saúde em Português.
Que todo o médico tenha o dever de ajudar (e o direito de escolher onde o quer fazer) e que por isso parta em missão, parece-me natural e intrinseco, apesar de não deixar de ser um acto que encerra boa fé e muito espirito de sacrificio. Mas para além do apoio médico, existem muitas mais pessoas, movidas por generosidade, por fé, por Deus, por seja lá o que for, que encerram em si bondade suficiente para partirem em missão. Para tratar o corpo, a alma, seja o que for... para assegurar um bocadinho mais de justiça e menos de dificuldade.
Conheci algumas pessoas assim em Moçambique e algumas por cá. O Professor JLB (que despertou em mim este bichinho e para o qual me sinto uma desilusão completa), a irmã Antónia, uma outra irmã da qual não me lembro o nome mas que consigo descrever em pormenor as feições e trejeitos dos olhos quando me falava do que faltava fazer por aquelas pessoas. Conheci inlcusivamente uma Idalina, como a missionária que faleceu. Pessoas que partem para fazer um bocadinho mais pelos outros. Pessoas que, no terreno, fazem concerteza a diferença. Não digo que seja um acto (completamente) desprovido de egoismo, já que é também o quentinho no coração de saber que se fez bem, que mantém vivo o bichinho de voltar. Mas há certamente muito mais de bondade, de responsabilidade e de humanidade nesse gesto.
Nesse gesto de partir sabendo que se pode morrer longe de casa, vitima de violência brutal, enquanto se faz algo que raramente é reconhecido e do qual não se espera reconhecimento, algo pelo qual não se ganha mais do que uma sensação boa.
Descansem em Paz.

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