sexta-feira, fevereiro 22, 2008

Conversa de miúdas

-"... É que, como se não bastasse, ela tem uma voz maravilhosa. Aposto que deve ser linda, boazuda e com um bocado de sorte ainda é riquissima. É mais que óbvio que, quando ele escolhe outra pessoa, ela tem de ser o máximo."

(O facto de não fazermos ideia de quem seja ela (a que atendeu o telemóvel dele)
não muda nada.)


- "Mas porquê? Na volta nem é. Se calhar é uma miúda completamente normal como nós."

Hiiiiii... Só porque uma lambisgóia qualquer atendeu o telemóvel dele, nós já temos que ser normais?? Só porque ele achou que nós não somos suficientemente boas, isso torna-nos normais??


- "Aliás, nós não somos normais, pá! Olha ao que isto já chegou. Ele é que é parvo e não sabe dar valor."

- "Se calhar sabe. Por isso é que a escolheu."

- "Achas que sim? Escolheu porque é parvo. Ponto. Mesmo que estejamos longe de ser misses, sei lá, também temos coisas boas. Tipo... Tipo..."

- "Tipo quê?"

- "Tipo... Não somos feias de fugir. Somos simpáticas. E espertas. Sabemos de cor os critérios de Ranson e coisas super importantes como o Plano Nacional de Vacinação. E pronto, eu não sei cozinhar, mas tu sabes."

- "Não interessa nada disso, se ela for mas gira e mais bem feita de que é que serve isso?"

- "Sei lá, há-de servir para alguma coisa."

E mesmo que eu não to diga, tens razão querida, quase tão mau como saber que há alguém que pode atender o telemóvel dele é pensar que ela pode ser mais gira, mais bem feita e mais inteligente que nós.


Sim, isso faz parte da (nossa - minha e tua) natureza feminina, não há nada a fazer. E não, nunca ninguém nos vai ensinar a lidar com isso.

E é por estas e por outras (principalmente pelas outras) que o mais importante é ser um todo...

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Consulta I

E a meio da consulta da (amorosissima) Dona Maria...
- E doenças do coração, a D. Maria tem?
- Ah não, graças a Deus, eu não tenho. Mas até preferia ter. Tudo menos estas dores nas costas. Quem tem é o meu filho. Nem sei se é bem uma doença do coração. É o amor da minha vida, só que vai viver para longe e isso também me traz preocupada. Está a comprar uma casa ali para os lados de Cascais, uma casa muito jeitozinha sim senhora, tem uns quartos grandes e muita luz, é um bocado fria no Inverno mas agora com o aquecimento central tudo se resolve, só que os aquecimentos centrais também tem o problema das diferenças de temperatura e das gripes que se apanham, uma prima minha até teve uma gripe que depois passou a pneumonia e esteve muito mal coitada, internada e tudo no hospital, a doutora até deve conhecer, chama-se Maria e é muito boa moça mas tem tido azar na vida coitada, só teve a sorte de ter sido diagnosticado a tempo, que ela estava quase a ir de férias para Cabo Verde, dizem que é muito bonito e eu acredito apesar de nunca ter ido, aliás nunca vou a lado nenhum porque o meu marido nunca está para ai virado e sempre que é para sair de casa começa logo a refilar a menos que seja para ir comer uns petiscos na tenda do Chico que não é mau homem mas dizem que volta e meia quando bebe fica assim descontrolado e não é que eu tenha nada a ver com isso, mas ouvi dizer que até se envolveu numa luta que teve de ir lá a policia á praceta, e isso até vi eu. Mas doutora, eu cá não gosto de falar da vida das pessoas, não sou como a outra do café que é o dia todo no "diz-que-diz", que um destes dias até a apanhei a falar da vizinha de cima que é uma rapariga um bocado estranha é verdade, mas é um docinho de pessoe e eu não tenho razão de queixa apesar de se vestir com umas roupas muito justas e umas saias curtas de mais, mas também estas modas agora doutora, é tudo assim, você é jovem e sabe. E ainda por cima a rapariguita até é sossegadinha, não é nada como a do 4º frente, que deixa o lixo á porta de casa, um destes dias ate hei-de falar nisso na reunião do condomínio. Não que eu seja de falar mal mas estas coisas uma pessoa aborrece-se. E é por isso que o meu filho vai para Cascais para os tais apartamentos jeitosos com muita luz e por isso fez o exame ao coração para o empréstimo e encontraram uma coisa que eu também não sei o que é, e também já nem sei se é no coração, que uma pessoa com esta idade já baralha as coisas...
É impossivel não adorar as Donas Marias com que me cruzo...

Retornada, revigorada e recarregada

E eis que, lambidas as feridas, volto.
Foi duro o ano que passou. Mas passou.
E agora volto. Revigorada, revitalizada e cheia de esperança em dias cada vez melhores.
Aos que acompanharam a minha epopeia a tentar tornar-me pediatra, é com alguma tristeza que vos digo que não consegui. E que custou muito assumi-lo. Que não consegui. Custava tanto dizê-lo antes. Hoje não custa tanto.
Sou, actualmente, uma orgulhosa interna de especilidade de Medicina Geral e Familiar. Pondo as coisas doutra forma, sou um projecto de médica de familia.
Se o sonho da pediatria morreu? Nunca morre, é certo. Mas temos de perceber quando os sonhos nos magoam ao ponto de não nos deixar lutar por eles. Continuo a sonhar com isso mas, por enquanto, vou-me deixando apaixonar pelo que a vida me ofereceu. E, felizmente, a vida tem-me oferecido muito.

Aos mais próximos, peço desculpa pela ausência. Senti saudades vossas.