terça-feira, junho 27, 2006

A senhora da 11

Sinto saudades do olhar sereno da Gabi, da arritmia sinusal da Inês e do cabelo do Chao. Fazem-me falta as gargalhadas. O serviço está muito mais calmo e já nem há jogos de futebol com a soca da enfermeira. Sinto saudades do meu doente, aquele que oiço desde pequena. Sinto saudades dele mesmo antes de ele ir embora, se é que vai embora, porque aos pouquinhos ele já foi. O sorriso já foi embora, já saiu da enfermaria triste e escura. A esperança ainda não, mas é uma questão de tempo, dizem.
A única coisa que compensa é a senhora da onze, que me chama de filha, embora com os seus 90 anos já devesse ser minha avó. A senhora da onze é aquele tipo de senhoras que dá vontade de abraçar. Assim que me vê agarra-me a mão e começa a queixar-se de tudo mas a queixa principal, mais do que os vómitos e a falta de apetite, é sempre que o doutor ainda não lá foi. E nem adianta dizer que eu faço a vez do doutor que ela diz logo que eu sou uma criança. Muito menos lembrar-lhe que o doutor acabou de sair de lá porque ela diz logo que eu não entendo nada. Ela queixa-se sempre que ele nunca lá vai. Apesar de ele lá ir todos os dias, várias vezes por dia. Hoje entendi porquê. Assim que o vê, a senhora da onze assume posição de mimo: recosta-se e, qual gato persa, estica o pescocinho para receber festinhas e um abraço. Ela faz beicinho e ele chama-a de avózinha e diz que sim a tudo, inclusivamente que a causa do coração bater mais rápido é o antibiótico e não a fibrilhação auricular. Diz-lhe que ela tem razão. E dá-lhe atenção. Porque o que ela precisa é de atenção. E de amiodarona tambem ;) Foi assim, diz-me, que a "curou" nos três ultimos internamentos. Acima de tudo, o doutor ouve a senhora da onze. Coisa rara naquele serviço em que só se ouvem bisturis.

sábado, junho 24, 2006

Baile de Finalistas

Se alguém me convidar para ir ao baile esta noite, seja quem for, homem, mulher, gordo, magro, esperto, tonto, conservador ou liberal, branco, preto, asiático ou mulato, muçulmano, católico, budista, agnóstico ou ateu, seja quem for, a quem quer que seja, vou dizer que sim. O que não vou fazer é entrar naquele baile sozinha depois de ter pago dois lugares!!!
Adaptação de "Alextimia" de Lucia Etxebarria in "Nós, que somos diferentes das outras"
Até a velhinha da hidroginástica já entrou no meu "drama" e disse-me, cheia de ternura: "Oh vai ver que se pedir a um dos seus colegas ele até dança consigo"... Faltou a parte em que ela dizia "se pedir com muita insistência, pode ser que eles lhe façam esse favor, mesmo que seja uma pulguenta, sarnosa, horrorosa" LoL...
Enfim a consolação que me resta é que para além dos meus/minhas colegas serem todos uns queridos (não, não é graxa para vos convencer a dançar a valsa comigo), a minha mãe, a minha mega mãe, vai comigo ao baile. Um bocado arrrastada, é certo. ("mas não vão pais nenhuns de ninguém, porque é que tu me obrigas?? e que mal fiz eu para ter de ir para lá?"... e entretanto ia enumerando nomes de eventuais acompanhantes). Mas não. Vai ela. E vai dançar comigo a valsa. Quer ela queira, quer não LoL Apesar do meu primo Márcio dizer que "mulhé com mulhé dá jacaré". E eu sei que ela está super orgulhosa de ir comigo (ou pelo menos prefiro pensar assim).
A escolha é óbvia. O meu par devia ser o meu pai. Já que ele não está devia ser o meu irmão, que também não está. Logo a seguir vinha a minha mãe e a minha sempre presente Loo. Pronto, vai a minha mãe. Fico feliz. Na realidade é ela que conhece os meus colegas, que me aturou durante seis anos de exames, de "não consigo", de "tou tão preocupada com aquele doente"... Vai ela, linda como sempre. End of conversation.
Já estou a preparar o cd de kizombas para o Chao dançar umas tarraxinhas com a Gabi por isso acho que o baile promete. Não é o baile que eu imaginei, a pessoa que sempre achei que ia comigo ao baile não é a que efectivamente vai, mas a vida é mesmo assim. E é só um baile.
Mas é o meu baile de finalistas. O nosso baile de finalistas. E hoje não há espaço para tristezas. Até porque não convem babar nem sujar de rimel o vestido lindissimo que a Loo me emprestou... ;)

quarta-feira, junho 21, 2006

Triste

Vim para casa a pé, como sempre, só que desta vez com um pacote de batatas fritas numa mão, o saco do ginásio na outra e, dentro de mim, tristeza. Sinto-me feliz por estar triste, entênde-lo e respeitá-lo, apesar de não entender bem os motivos que motivam a minha tristeza. Sinto-me feliz por não precisar de inventar felicidade onde ela não existe e por não me contentar com felicidades fugazes. Mas, confesso, ás vezes queria ser diferente. Ou não.

Nestas alturas lembro-me sempre duma musica que me marcou e que diz algo como:
Well I guess I'm trying to be nonchalant about it
And I'm going to extremes to prove
I'm fine
But in reality I'm slowly losing my mind
Underneath the guise of a smile
gradually I'm dying inside
Friends ask me how I feel and I lie convincingly
'Cause I don't want to reveal the fact that I'm suffering
So I wear my disguise 'til I go home at night
And turn down all the lights and then I break down and cry

Decidi que usar um disfarce não é a melhor maneira de lidar com o que sinto e agora assumo "estou triste". Mesmo que não tenha motivos aparentes para isso. Estar triste não me torna mais fraca. Apenas me torna diferente. Mantenho-me independente de tudo o que me faça fugir de mim mesma e isso implica não fugir do facto de que me sinto triste. Há demasiado tempo? Talvez, mas não temos de andar todos a rir todos os dias. Sinto paz assim. Mais do que quando finjo um sorriso.

P.S.: Esta é a parte em que pensas "Lá vem ela com a história da paz e blá blá blá... não há paciência..."

segunda-feira, junho 19, 2006

Só um postzinhu rápido pra dizer que a familia tem saudades tuas. Muitas. Buéda. O bairro sente a tua falta LoL

Temos saudades tuas, da tua calma e de nos fazeres rir. A avó tem saudades de ti a abrir o frigorifico (palavras da própria)...

Eu também tenho saudades tuas mano.

domingo, junho 18, 2006

Não sei. Talvez. Tanto faz. Não tenho certeza.

Esta indecisão já me irrita.
Não devia ter desistido. Perdia um ano, e depois?!? O que eu queria mesmo era ir pró Congo. Eta bichinho entranhado, esse de querer sempre ir para longe, pra onde faz sentido. Era o que eu queria. Enfim, i'll keep on doin' my thang, tentando não me afastar muitos dos meus objectivos e daquilo que realmente sou.
No meio de toda esta confusão que é o dia a dia vamos perdendo um bocadinho da nossa essência e eu entendi agora, às 3 da manhã, que estou a perder a minha.
Não me perdoo e, já agora, se alguem tiver um bocadinho de "certeza" a mais... eu tenho "indecisão" pra trocar...

Afinal Postei :)

Queria postar hoje mas é melhor não. Tendo em conta a forma como me sinto provavelmente ia acabar a falar mal de alguma coisa. Ou então ia sair um daqueles textos de fazer chorar as pedras da calçada. Hoje 'tou mesmo mellow-mellow.

E é sábado á noite e tou em casa a estudar. Oh não, não tenham pena de mim! :P Felizmente tenho sempre alguma coisa para estudar, nunca posso dizer que "não tenho programa"... Que sorte a minha. Invejem-me :P Há sempre um livro qualquer á minha espera. É por isso que adoro livros, estão sempre cá para mim :)

Nem tudo são coisas más, amanhã é a festinha de aniversário da minha Maria. Faz três anos. Três anos a fazer-me rir, chorar, zangar para logo a seguir a encher de beijinhuz... Ou seja, temos almoço com a familia. Eu e a mami a chegarmos tarde e ouvirmos logo um "são sempre as mesmas atrasadas", o tio Carlos a chamar os politicos de macacos e a tia Aurora a queixar-se que ele está impossivel, o Rui a adormecer em cima da mesa, a minha avó sempre incansável entre almoços e sobremesas e a dizer "come filha que lá em tua casa não tens disto", a dona Teresa a falar das doenças e dos comprimidos, o João e a Maria aos berros pela casa e a fazerem "desmandos" com mais um grupo de baixinhos rebeldes... Enfim, tudo aquilo que eu adoro na minha familia.

Amanhã venho de lá estragada... vou aproveitar para encher as minhas reservas de mimo que estão a bater no fundinho.
Ohhhhh, afinal postei...

:)

segunda-feira, junho 12, 2006

Há coisas que nunca mudam.

As mentiras são sempre as mesmas. As conversas são sempre as mesmas. O nó que causam na garganta é sempre o mesmo. E a desilusão... essa é sempre igual.

Enfim, há coisas que nunca mudam.

domingo, junho 11, 2006

Afrolusitana. Lusoafricana.


Se há dor que me dói é essa de ter de optar por uma das duas terras que me viram nascer e crescer. Hoje não sou uma, sou muitas coisas.
Afrolusitana.
Lusoafricana.
P.S.: Ainda assim queria que os meus palancas ganhassem, só porque é a primeira vez que vamos tão longe... Áparte as rivalidades e tribalismos estupidos... Só mesmo porque acho que o meu povão ia adorar...

terça-feira, junho 06, 2006

Sometimes i feel ugly

Ser menina não é fácil. Ser mulher não é fácil. Somos desde pequeninas confrontadas com "és feia, já não sou tua amiga", crescemos a ver as nossas mães a maquilhar-se e a andar de saltos altos, enchem-nos de ganchos no cabelo e roupa cor de rosa e carteireinhas... Eu própria dou por mim a fazer isso... Desde pequeninas que as meninas são literalmente mascaradas, como se lhes incutissemos um sentimento de que por elas próprias nunca são suficientemente bonitas. E ainda por cima os miúdos têm pilinha e a nós parece que nos falta alguma coisa...Quando crescemos mais um bocadinho sentimos sempre que a amizade e os sentimentos que suscitamos nos homens é directamente proporcional ao corpo que temos. As amizades com as raparigas são menos "interesseiras" mas também menos frontais. Vamos todas juntas á casa de banho e tal, mas há sempre uma critica subjacente. As mulheres confrontam-se diariamente com a necessidade de se sentirem bonitas. Umas tentam sentir-se bonitas outras tentam que as "amigas" pareçam feias. Somos constantemente bombardeadas com corpos esculturais, faces perfeitas, cabelos sedosos e sorrisos brilhantes. Qualquer anuncio de detergente de wc tem uma mulher com um corpo perfeito enfiada num fato de napa coladissimo. Já sem falar nos anuncios de giletes e espuma de barbear... alguma vez se viu uma mulher menos bonita a abraçar o homem quando ele aparece de barbinha feita? Daí a pressão de ser perfeita. E se o sentimento de não ser suficientemente boa se perpetua no dia a dia, nasce em casa. Na constante pressão que nos é passada e que passamos aos outros, desde pequeninos. E isso torna-se uma preocupação. Uma preocupação real. E se muitas das vezes nos queixamos de algo, não é apenas uma questão de "fishing complimments", é uma sensação real de que não estamos bem conosco, que a nossa auto-estima está a tocar no fundo e que nunca nos sentimos suficientemente bons nem bonitos.
Ser bom é ser magro e perfeito e o mundo só aceita as pessoas assim. É verdade. Mas é errado. Eu entendo isso e empenho-me na minha campanha por uma beleza real mas tenho de admitir que é dificil. São coisas que nos são passadas desde muito cedo e que estão constantemente a ser reforçadas. Aprendi que existem muitas coisas muito mais importantes do que a beleza exterior. Ainda assim queria ter menos barriga, mais altura, um nariz diferente... É a eterna necessidade/pressão de ser perfeita... Quem me dera a mim (e a muitas das pessoas que conheço) conseguir viver ser precisar da aprovação constante dos outros. Quem nos dera a nós conseguirmos dar-nos uma trégua a nós mesmos para conseguirmos olhar para nós. Ver em nós aquilo que realmente temos de bom. Era bom... gostarmos de nós, encontrarmos as nossas true colors e sermos felizes mesmo assim.