Da janela
Estudo no hospital. É, nestes dias, a única forma de sentir que todo este esforço talvez valha a pena. Estar no hospital é recordar que há algo mais importante que o cansaço, que as noites mal dormidas, que as dores de cabeça que só cedem a 4 gr diárias de paracetamol, que a vontade de chorar e fugir e gritar. Estar no hospital é sentir que há mais do que eu. Da "minha" janela vejo o verde e os aviões que levantam vôo e com os quais me apetece sempre ir. Da janela "dela", a senhora que está internada na pneumologia, vê a minha. Eu também a vejo, triste, com o robe azul turquesa. Volta e meia trocamos olhares. Quando levanto a cabeça dos livros ela continua, lá. De longe, trocamos. Ela as preocupações dela, eu as minhas. Não sei se ela entende a minha "luta" mas eu, de longe, consigo adivinhar a dela. Passámos a tarde, de uma janela para a outra, assim. Eu a zelar por ela, ela (quem sabe?) a zelar por mim.
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