sábado, junho 30, 2007

Momentos

... E quando dou por nós, estamos assim,

felizes, sentados ao sol,

a mastigar pastilha elástica com a boca aberta...

domingo, junho 24, 2007

Mais uma estrela

Há uns tempos atrás conheci um blog que falava sobre mulheres com cancro da mama. Tinha sido criado para acompanhar a Cláudia na luta que ela, como tantas mulheres, travavam.
O blog ensinou-me muita coisa no último ano. Ensinou-me, entre outras coisas, a ter medo e a continuar a ver sempre a doença do lado da pessoa que a tem. Ensinou-me, ao ver todo o apoio que as amigas da Claudia deram, que a amizade sobrevive às provas mais dificeis. Ensinou-me a rir dos momentos tristes e a fazer pouco (com um risinho nervoso de medo e a lingua de fora num desprezo infantil) "dos cancros". Do da Cláudia e dos de outras mulheres que entretanto iam aparecendo. Serviu para conhecer a Manuela, que se tornou uma querida amiga virtual.
Tenho andado ausente da net e só agora me apercebi. A Claúdia faleceu.
Não conheci a Claúdia mas sinto um aperto no peito e um nó na garganta. É mais uma estrela que brilha. E que brilha forte, ou não fosse uma estrela superglamorosa.
Beijinhuz.

Ponto de referência

A jogar Super Mario no game boy e a deseperar por não conseguir dar cabo do dragão, vencido, o meu pequeno Harry Potter diz:

- Oh Shara, passa-me lá de nivel...
Seis anos depois percebi finalmente que sou uma referência para ele.
Sou aquela que ele chama quando precisa de passar os níveis dificeis!!

segunda-feira, junho 18, 2007

Que boooooommmm!

E se, ás 4 da manhã, durante a sutura de duas feridas do couro cabeludo o doente disser continuamente:

- Ai que bom doutora... que boooooooooooooooooooooom! Sabe mesmo bem!

Não pensem, como eu queria pensar, que são os mestres da anestesia nem peritos em pontos que mais parecem festinhas...
Lamento desiludir mas não são vocês. É o álcool a falar.

Feia menina bonita...

Drenos, pensos, cicatrizes.
Vómitos, melenas, cheiros.
Há alturas assim, em que em vez de querer trabalhar num hospital me apetecia trabalhar numa revista de moda, para não ter de ver só pessoas velhinhas e doentes. A beleza não está na idade dizem. Nem na saúde. E não está, só que há dias em que não consigo ser altruista ao ponto de pensar diferente. É certo que eu aprendo mais com as velhinhas do que elas comigo e é certo que elas, nos seus 70, 80, 90 anos, conseguem ser mais bonitas que eu, aos 25. Por dentro, a grande maioria das pessoas que me rodeiam são milhares de vezes mais bonitas que eu e têm, de uma forma geral, muito para ensinar. Pessoas que não são só envólucro.
Na maior parte dos dias consigo ver isso. Mas, confesso, há dias em que não. E esses dias são os dias em que não chego a casa feliz.

quarta-feira, junho 13, 2007

Ser interna é...

Um ano de médica e cinco meses de trabalho depois, conclui que ser médica interna do ano comum num hospital central é:

1. Andar com uma dor nas costas que simplesmente não pássa porque nunca se consegue ter tempo suficiente para descontrair os músculos das goteiras vertebrais, os dorsais, os lombares e todos os outros que só se percebe que se tem mesmo quando doem (ter uma cama partida também não ajuda muito...)
2. Pedir vinhetas emprestadas
3. Acabar todas as frases com "sim, senhor" ou "sim senhora" e sentir-me um soldado... daqueles rasinhos
4. Sentir que a vida se parece cada vez menos com o Dr. House e cada vez mais mais com o Scrubs
5. Ouvir (até quando?) "a menina parece-se mesmo com a minha neta, não tem nada cara de médica"
6. Ter setecentos livros no bolso
7. Ter, para além dos setecentos livros, uma agendinha para apontar os bancos extra
8. Andar o mês todo á espera de dia 23 para ver se não se esqueceram de contabilizar os tais bancos extra
9. Perceber, dia 23, que se "esqueceram" mesmo
10. Passar tanto tempo no hospital que quase se sente saudades de casa
11. Chegar a casa, não ter ninguém á espera, ter o frigorifico vazio e a cama ainda desfeita... e querer voltar para o hospital
12. Dormir em cima do plano duro das reanimaçãoes (e é duro mesmo!), encostada a uma coluna de som de discoteca ou dormitar na mesa do jantar romântico
13. Cair na gandaia com as enfermeiras
14. Comer pudim feito pelas auxiliares ás 2 da manhã
15. Perder 20 minutos da hora de descanso a correr nos corredores do hospital cheia de medo ás 5 da manhã para chegar ao quartinho e perceber que está ocupado por alguém que ronca como se o mundo fosse acabar
16. Receber um presentinho e um beijinho de um doente
17. Plantar uma orquídea num vasinho para alegrar a sala dos médicos
18. Ter pena de obrigar a coitada da orquídea a ficar na dita sala
19. Ser sempre a última a escolher as férias
20. Ser sempre o número mecanográfico mais recente
21. Não ter tempo para postar nem para navegar nos blogs dos amigos, mas entrar na net só mesmo para "cuscá-los" de vez em quando

Ser interna é assim, andar anestesiada e feliz.