Confissões
Ao contrário do meu amigo egófono, não me fui confessar. Mas segui o conselho dele e confessei-me. Parar implica mesmo olhar para dentro e até eu, que sou uma pessoa "areada" e outrora loira, preciso de confessar o que me passa pela alma. De pensar não... Aliás, pensar já penso demais, numa época em que se prefere que as pessoas não pensem muito. Mas nestes dias em que até os Noddys de olhos (tão) doces e sorrisos (tão) perfeitos se transformam em sapos, o melhor é ir pensando.
Não fui a um padre though. Os meus assuntos, eu resolvo com o meu deus, numa descrença total pelas ditas regras que nos impõe uma igreja com a qual não consigo concordar. Respeito. Mas o meu padre sou eu, são as minhas amigas.
Nós procuramos perdão de uma forma diferente. Em confissões num estilo que mistura "Sex and the City" e "Donas de Casa Desesperadas", num centro comercial em cima de uns saltos agulha mega fashions com make up que inclui bronzing powder e anti-olheiras (imprescindiveis nesta altura do campeonato), a Loo ouve as minhas dores, e eu as dela. Os meus receios, os meus pecados... Os meus erros. Não sei se me perdoa, mas suspeito que pelo menos me entende. E quando não entende, critica-me abertamente, chama-me de maluca e diz que tem medo de ficar parecida comigo. LoL Não sei se isso é bom ou mau sinal, mas faz com que eu olhe para as coisas de uma forma diferente e tenha, dentro de mim, a percepção do erro.
Ou uma outra confissão, numa varanda, pertinho da máquina do café. No escuro não se vêem lágrimas e isso protege. Posso dizer o que penso, pôr em palavras a minha revolta egocêntrica, sentir pena dos sonhos egoistas que nunca se vão realizar, arranjar justificações hipotéticas para situações que não entendo, e sentir a necessidade de pedir perdão por só pensar em mim. E podemos rir logo a seguir a isso, eu e a Cris. Com a sensação de termos também oferecido a verdade a esse deus que algures zela por nós. E porque afinal ainda cá estamos. Menos sonhadoras. Mas ainda crentes. Cada vez mais duras dentro da nossa fragilidade de pessoas que erram e que precisam de ser perdoadas. E prontas para não errar de novo da mesma maneira.
E isso nenhum padre pode fazer. Aqui não há padres, mas há a humildade descomplexada de admitir os erros (nossos e dos que nos erram) perante alguém e de assumir a responsabilidade (perante nós) de não os voltar a cometer, pelo menos de uma forma deliberada. Já me dizia o egófono numas das muitas confissões, que as coisas têm de partir de nós, o perdão tem de partir de nós. Por isso acho que os meus amigos podem bem fazer de padres.
Pelos menos dão-me umas valentes vassouradas na alma, não é betinho? :P
P.S.: Volta Betinho... tamos perdoados LoL... Amanhã ás 11 no Ágora?
9 comentários:
Nunca me tinha aventurado neste campo dos Blogs…
“Encontre-te” através de um amigo teu, que é meu amigo também!
Gostei do que escreveste, mas agora que te escrevo, vem-me à memória uma publicidade a um desses iogurtes para os miúdos “faltou-te um pedacinho assim…”
Estás tão perto… mesmo muito perto. E no entanto há uma realidade que antevês mas que ainda não alcançaste.
Como explicar?!...
Será possível ajudar alguém a compreender a diferença entre um desabafo, uma confidência ou um abrir a alma a alguém e o que se vive quando nos confessamos?
Não será como tentar explicar o sabor dum café expresso com um pedacinho de chocolate preto, a quem nunca provou nem um nem outro?
Por de trás deste abrir a alma, deste gesto de humildade, há um mistério que só se conhece quando se experimenta, quando “se prova”.
Há muito boa gente que diz que não gosta de café com chocolate preto simplesmente porque um dia provou um gelado de café coberto com chocolate e não gostou.
Deus é assim: “prova-se”! E com a confissão acontece exactamente o mesmo.
Se queres descobrir o sabor de um bom café com chocolate não o faças com um café qualquer nem um chocolate qualquer, pede a alguém que te “inicie”.
Agora – se me permites uma sugestão – faz o mesmo com a confissão.
Há um mistério que (creio que) ainda não “provaste”….
Digo-te: Vale a pena…
Fica bem! ;)
Talvez volte a fazer uma confissão oficial um dia, já o fiz antes. Não é negar á partida uma ciencia que desconheço, sabes... Temos deuses diferentes, cada um de nós. Eu tenho um Deus diferente porque não consigo acreditar noutro. Não é que eu seja uma ovelha tresmalhada mas nem todos temos as mesmas experiências, e a arte de crer sem questionar só é possivel para alguns. Acredito que valha a pena para alguns, mas as crenças pessoais não são "one size fits all". De qualquer das formas, obrigado pelo teu conselho e bem vindo ao meu blog. Fica bem!
parece-me que vão ser precisos mais 10 iguais a vcs para consituir um novo exercito de 12 evangelizadores!
peço desculpa por tomar as dores da minha amiga, mas uma vez q partilho da opinião dela, penso que n há problema em comentar.
n somos burras, nem más, nem nenhuma minoria promiscua ou mal-formada.
a nossa crença é fundamentada e evoluiu duma muito semelhante à vossa! mas EVOLUIU! pq nem todos gostam de cafe com chocolate preto, mm dps de o provarem ... aliás há aqueles alérgicos a chocolate e café e a outros estilos de alquixantinas estimulantes permitidas pela sociedade q nos rodeia!!!
gostamos de ter a liberdade de mudar a opinião. gostamos de zangar-nos com o nosso Deus, de discutir e insultá-lo ... de po-lo em causa a toda a hora!!!
foda-se ! tou mm chateada!!! onde é q tá esse Gajo qdo há injustiça?? n o vejo andar aí a distribuir canas de pesca!!! vcs vêem? se calhar Ele existe ... n é é omnipotente nem omnisciente!
nesse eu acredito, no conceito do Deus de cada um... naquele q é sempre um upgrade de nos mesmos.
b'jinho
Hiaaaaa
Olá Shara! Parece que este tema ainda está para durar!
Tenho no entanto de responder ao “desabafo” da Cris!
Cris!
1º Não te considero nem burra, nem má, nem uma minoria promíscua ou mal-formada, como dizes. Porque razão o haveria de fazer?
2º Ainda não consegui entender com quem é que está aborrecida...
Não sei se é comigo por ter feito um comentário a um comentário da Shara...
Se está aborrecida porque não entendes “nenhum” do que digo nesse comentário...
Ou então se está aborrecida com a ideia que tens de Deus...
Talvez não tenha conseguido exprimir o que sinto e que vivo (procuro viver) mas a verdade é que esse deus em quem não acreditas... eu também não acredito!
Não acredito num deus omnipotente que veja o homem na miséria e não lhe estenda a mão.
Não acredito num deus indiferente diante do sofrimento e da morte...
Não acredito num deus castigador, nem num deus sádico…
Mas sobre tudo não acredito num deus que seja um "tapa buracos" das m#§@$ (porcarias) que como homens fazemos – ou consentimos que se faça – a outros homens.
Acredito sim num Deus que como um pai, sofre ao ver os seus filhos usarem mal a sua liberdade – mas porque ama e não é castrador não o priva dessa liberdade.
Acredito num Deus que nos dotou de inteligência e de um sentido inato do justo e do bem.
Acredito num Deus que continuamente convida e mostra o caminho do bem.
Acredito num Deus que, independentemente do que tenhamos feito ou vivido, está continuamente disposto a acolher, a perdoar e a capacitar para o bem.
Não sei em que deus acreditas, mas seja qual for não o acuse de ser injusto quando tu (suponho eu!... o não ser que sejas a santidade em pessoa) já foste cúmplice na injustiça; não o acuse de não “distribuir canas de pesca” quando tu (e eu também fica descansada) não fizeste tudo o que estava ao teu alcance para ajudar os que dela necessitam.
Sobre tudo não acuses Deus de ser alheio e ausente porque isso ELE não o é!
Quanto a essa história de um deus “que q é sempre um upgrade de nos mesmos” tenho algumas duvidas…
Surgem-me várias hipóteses:
1. Não és perita em informática e não pensaste que um upgrade só é possível a partir de um “aport” externo ao que é submetido a um upgrade.
2. Não és perita em física e não pensaste que nenhuma causa é causa dela mesma, do mesmo que nenhum efeito é efeito de a partir de si mesmo.
3. Não era bem isso que querias dizer…
Fica bem!
Mr P,
Não quero transformar isto num debate “nós contra ele”, mas deixa que te diga (Posso tratar por “tu”, suponho, os visitantes do meu blog são meus amigos e os meus amigos trato por “tu”), algo aqui está mal… Para além da tua arrogância…
O Deus de que falas é também o Deus em que eu acredito, mas não é certamente o que a igreja católica professa. Ou pelo menos, não é o que fazem passar. Porque a mim ensinaram-me na catequese que Deus é omnipotente (então, onde está ele? Na Somália não estará concerteza)… E sim, eu acredito num Deus que nos dota de poder para decidir sobre o bem ou o mal e que não fique indiferente diante do sofrimento e da morte, tal como tu. Mas não acredito que uma mãe que veja o filho a morrer de fome partilhe a tua ideia. E há mães a ver os filhos a morrer de fome. Talvez não na tua paróquia ou á tua volta, mas há. E não se trata de tapar buracos nem de usar mal a liberdade. Há pessoas que simplesmente não tem liberdade. E desses, será que Deus se esqueceu? Acreditas num Deus bom para uns e mau para outros? Eu também não… Mas então como explicas que 75% da população mundial viva na pobreza, que em alguns países haja 25% da população infectada com HIV, mas que ainda haja uma percentagem melhor a morrer de malária? Como explicas que no país de onde venho haja padres (católicos) a queimar preservativos que poderiam evitar gravidezes de crianças que passam fome ou mortes por SIDA? Como queres que uma criança violada pelo pai e abandonada pela mãe acredite num Deus justo? Desculpa, mas acho que quem não entendeu foste tu. Nós acreditamos em Deus, não acreditamos na igreja católica, na confissão a um padre e noutras coisas do género. Não acredito num papa que considera os muçulmanos desumanos, e que descreve o Islão como uma religião que se impôe pela espada (até porque a igreja católica tem muito a dizer nesse campo…). Mesmo que depois venha pedir desculpas. Tarde. Que belo exemplo de humildade… , E ninguém considera Deus injusto, eu pessoalmente até acho que injusto é esperar algo de Deus, pedir-lhe algo, ocupá-lo com coisas tão pequenas quando há tanta coisa no mundo para ele se ocupar. Mas ausente é. Não para ti nem para mim. Mas esse Deus que a igreja católica professa é ausente, sim. Em muitos sítios. É que o mundo não é apenas uma colecção de paróquias. Há muito mais. E não é a dar pão aos pobrezinhos nem a ajudar os pretinhos que se vai ser uma melhor pessoa, mas sim (entre outras coisas) a ter respeito por essas pessoas, a tratá-las como iguais, com respeito. E isso inclui tolerar e entender que se fosse o teu irmão ou a tua irmã a passar fome não ias certamente acreditar numa igreja que se veste de ouro. Fica bem. Beijinhuz.
Huao!
Isto faz-me lembrar uma publicidade que dizia: “solta a fera que está em ti!”
É isso, soltaste a fera…
Mas não te preocupes, não me ofendeste nem ofendes e espero que não consideres isso como mais um acto de arrogância.
Quanto ao tratares-me por “tu”, não contava com outro tipo de tratamento O “Mr P” é apenas um trato carinhoso de alguém que ainda não ousou o “tu”.
Quanto ao que chamas arrogância… nada a fazer… apenas lamento que o tenhas tomado como tal e peço-te desculpa por isso.
Tantas questões esvoaçam no que escreves.
Hoje quero apenas tecer algumas considerações sobre um ponto: a primeira das percentagens a que te referes.
Estás mesmo convencida que o facto de haver 75% da população mundial a viver na pobreza a culpa é de Deus? Se assim é lamento!...
Sabes, tenho estado muitas vezes em Africa (não sei se alguma vez lá estiveste?) mas de uma coisa podes estar certa, a maior parte das pessoas que lá vivem (isto em relação aos países onde estive em missões de solidariedade) não partilham a mesma opinião que tu!
Sabes, Deus é a único que lhes resta quando já não conseguem acreditar mais no homem!
É fácil acusar Deus e dizer que essas pessoas também o fazem!
Não sei se alguma vez partiste em cooperação mas pelo que “adivinho” nunca o fizeste.
Sabes porque motivo Angola viveu dezenas de anos em guerra? Acha que a culpa é de Deus? Achas mesmo que Ele se está completamente borrifando com o que se passa na Somália ou em Angola e que só gosta dos europeus e dos americanos?
Pergunto-te, não achas que são os europeus e os americanos (em geral) que se estão a borrifar completamente com o que se passa na Somália ou em Angola e para Deus?
Centremos unicamente a nossa atenção em Africa…
Para o “grande Norte” existem dois tipos de países africanos: os que interessam – porque têm recursos – e os que não interessam – porque não os têm!
Os primeiros não interessa ajudar a desenvolver, de outro modo tornar-se-iam competitivos e terminaria a “mama”. Os segundos não interessam desenvolver simplesmente porque não se podem tirar daí grandes contrapartidas económicas.
É tão fácil exorcizar a “nossa culpa” atirando-a para Deus! Que fácil é “tapar o sol com a peneira”!
No entanto, se tu e eu formos mais justos, o mundo em que vivemos será mais justo (não faremos uma grande diferença, mas a verdade é que será mais justo!).
Kiss
PS. Só mais uma pergunta. Leste o discurso do Papa sobre a questão do Islão? Espero que sim!... (?)
Como sempre, u missed the point. Enganaste... talvez não saibas mas a maioria das pessoas que vivem em áfrica (principalmente PALOPs) NÃO acreditam necessariamente só no Deus católico, até porque essa foi uma das imposições do colonialismo e África com as suas tradições e deuses já existia antes. Já estive em áfrica, aliás vivi em áfrica quase toda a minha vida e por isso sei do que falo. Venho dum pais em que se dança e bate palmas durante a missa, que se sofre com um sorriso e onde se acredita em Deus. Não falo na visão de alguém que vai lá de vez em quando para sentir que faz alguma coisa. Sei perfeitamente porque é que Angola viveu tantos anos em guerra, porque parte desses anos vivi lá. Nunca disse que a culpa da guerra ou da pobreza era de Deus. Em momento algum me viste culpabilizar Deus ou qualquer outra divindade pelas porcarias que se passam por ai fora. Longe de mim... A unica coisa que disse foi que vos falta tolerancia para respeitar e entender o Deus para além da visão cor de rosa do mundo. O Deus em que outros acreditam, que não tem necessáriamente que ser o da igreja católica. Embora seja tão bom e tão justo quanto o teu. Embora tenhas pensado que não, já parti em cooperação, sim. Para que me entendas, já vivi em africa e estando a viver cá já lá fui em cooperação. E não fui lá tocar jambé e fazer trancinhas. Não te esqueças que não são só os católicos que existem e que fazem alguma coisa. E é claro que as pessoas nos paises em q estive acreditam em Deus, claro que sim... Só não me venhas dizer é que a maioria acredita nesse deus vestido de ouro porque até ofendes, a mim e a eles. Não seria justo, sequer.
P.S.: E sim, li o discurso do papa, não o iria comentar sem o ler, como é óbvio.
Em relação aos americanos e aos europeus... nesse ponto, amigo, partilho completamente a tua opinião. Fica bem.
Confesso que esta conversa está a fazer-me mal. Não tenho uma natureza conflituosa e não queria de forma alguma entrar em conflito contigo. Não sou assim. Sinto que não tenho mais de justificar o que acredito nem porque acredito. Nem preciso que acredites no meu Deus. E digo-te isto na maior das humildades, sem um pingo de presunção. Não quero de forma alguma que sintas intolerancia da minha parte para com as tuas crenças, tal como espero não sentir de ti. Consigo viver com o facto de que acreditamos em coisas diferentes mas que no fundo são muito iguais. Acho que o importante é isso, acreditar que existe algo que é uma fonte de amor e de bem.
Fica bem.
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