segunda-feira, maio 07, 2007

Quando aqueles que os médicos amam adoecem...

... os médicos não pensam nele como um doente. Não o vêm como o doente do nitrato em perfusão a 4 cc/hora, ou como o bólus de amiodarona. Não o vêm como uma folha de análises com troponinas e cê kápas aumentadas. Quando adoecem aqueles que nós amamos, nós vemos o hospital do lado de fora e as unidades de cuidados intensivos passam a provocar-nos frio na barriga. O desfibrilhador e o ventilador deixam de ser objectos de reanimação e passam a ser sinal de mau augurio. Quando adoecem os que amamos, olhamos para um monitor igual ao que vemos diariamente e simplesmente não entendemos o que vemos. Quando adoecem aqueles que amamos, choramos como qualquer outra pessoa que não entenda que as guidelines e protocolos estão a ser cumpridos e que só o tempo (ou Deus, ou aquilo em que se acredita) pode ajudar. Quando adoecem os que amamos temos ainda mais medo do que alguém que não saiba o que aconteceu, o que está a acontecer e o que acontecerá...
Quando adoecem aqueles que os médicos amam... é tão dificil ser médico.

6 comentários:

Drifter disse...

Sim, e é importante termos essa noção, pois aqueles que nós "não amamos" mas que estão ao nosso cuidado, são amados por outros... Sem perdermos a objectividade, não nos podemos esquecer que lidamos com Pessoas...

Belíssimo texto!

Carla Zenóglio de Oliveira disse...

Adorei o post...

Shara disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Shara disse...

U got me Drifter. Mais do que saber o Harrison de cor, as ultimas guidelines salteadas ou os livros de trás para a frente... Para mim o mais dificil será sempre olhar e perceber todo o qqer doente como alguém que é amado por alguém. O mais dificil é encontrar, no meio da pressão, do cansaço e do dia a dia, essa atitude que ninguem nos ensina nos seis anos de curso mas que logo nos dizem que iremos perder ou esconder numa carapaça. E isto é sem duvida um desafio "fazivel" porque embora não possamos amar todos os doentes que nos aparecem, (nem seja esse o nosso objectivo) mas podemos respeitá-los, acarinhá-los e faze-los sentir melhor, dentro do mal que se sentem.

Nela disse...

Muito bom este texto!

Às vezes precisamos de algumas situações difíceis para nos mudar a perspectiva.

Viste o filme "Um Golpe do Destino", "Doctor" no título original?
Podes ler o resumo aqui:
http://www.cinemaemcena.com.br/cinemacena/crit_editor_filme.asp?cod=353

Vale a pena.

Bjinhos

Bad Girl disse...

Quando adoecem os que amamos, deixamos de ser racionais... muito bom.