Estando eu na casa de banho a refazer o penso da Elisa, que foi operada pelo 3ª vez á mão (começo a acreditar que a operam só para ver se ela se cala durante uns tempos) e a ouvir a lista de doenças da qual padece (e quee inclui de tudo um pouco, desde tendinites várias a sinusite passando por uma depressão major - essa sim, a meu ver, a principal doença que bem tratada, trataria todas...), entra a pequena Maria.
- Pima, tás a fazer quê? (Já perdeu aquele hábito delicioso de me chamar Sharita ou Sharinha, que pena...)
- 'Tou a tratar o dói-dói da Elisa.
E a Elisa:
- Tu quando cresceres queres ser médica como a prima?
A Maria:
- Não!
E eu:
- Queres, queres... até vais ter um estetoscópio como o da Shara e do dr Sergio e depois vais tratar os meninos quando tiverem dói-dóis...
A Maria:
- Tá bem, quero ser médica...
E ficou ali, atenta, até eu acabar de fazer o penso, como se estivesse a aprender.
Princesa, desculpa. Espero que te tenhas esquecido deste breve episódio e prometo nunca mais tentar convencer-te a seres médica.
Porque não quero que tu tenhas de dizer aos teus primos pequeninos (meus filhos, talvez) coisas do género "eu sei que prometi escrever a carta ao Pai Natal com vocês mas tenho as pneumonias e a fibrose quistica á espera", "não, não podem ir dormir comigo porque amanhã acordo estremunhada e antes de dar conta já tou a estudar e não tenho tempo para vos dar atenção" ou "a Shara jura que dia 20 vem montar a árvore com vocês... 4 dias antes do Natal?!?!"... Não quero que sejas uma estúpida que não entende que uma arvore de natal ou uma carta ao Pai Natal é muito mais importante do que qualquer capitulo de qualquer livro, que uma tarde no parque ou o tempo para vos ver a saltar em cima da cama (até partir as molas do colchão) e a dizer "olha eu! olha eu!" é muito mais importante que qualquer média de curso e que o olhar que vocês me dão cada vez que prometo alguma coisa que não consigo cumprir é muito mais reprovador do que qualquer nota de exame.
Por isso é que te prometo nunca mais voltar a cair no mesmo erro, nunca mais tentar inflenciar-te. Para que, se alguma vez optares por ser só mais uma pessoa que por vezes dá muito valor ás coisas erradas, o faças por tua consciência e com a certeza que o fazes por amor. Porque quando é por amor, também custa. Mas custa um bocadinho menos.