Quando aqueles que os médicos amam adoecem...
... os médicos não pensam nele como um doente. Não o vêm como o doente do nitrato em perfusão a 4 cc/hora, ou como o bólus de amiodarona. Não o vêm como uma folha de análises com troponinas e cê kápas aumentadas. Quando adoecem aqueles que nós amamos, nós vemos o hospital do lado de fora e as unidades de cuidados intensivos passam a provocar-nos frio na barriga. O desfibrilhador e o ventilador deixam de ser objectos de reanimação e passam a ser sinal de mau augurio. Quando adoecem os que amamos, olhamos para um monitor igual ao que vemos diariamente e simplesmente não entendemos o que vemos. Quando adoecem aqueles que amamos, choramos como qualquer outra pessoa que não entenda que as guidelines e protocolos estão a ser cumpridos e que só o tempo (ou Deus, ou aquilo em que se acredita) pode ajudar. Quando adoecem os que amamos temos ainda mais medo do que alguém que não saiba o que aconteceu, o que está a acontecer e o que acontecerá... Quando adoecem aqueles que os médicos amam... é tão dificil ser médico.