quarta-feira, fevereiro 28, 2007

Casablanca Produções

Ainda na onda do escândalo "Casablanca" relacionado com o festival de hip hop afro-luso-americano que era pra ser mas não foi (por duas vezes) e cujo patrocinador "ficarão a conhecer no dia do espectáculo" clickei aqui...
Que em Angola já nos tenham habituado aos sucessivos adiamentos (e à não realização) de concertos e a publicidade enganosa, é mau, mas ainda se vai tolerando... "ah e tal, as coisas não funcionam... o 5o cent não veio porque ficou preso na DEFA e tal"... mas vir fazer isso no país do outro, é obra!!
P. S.: Ah, e alguém avisa este pessoal das Produções Casablanca que já não se diz "paises do 3º mundo"?... agora é paises em vias de desenvolvimento, senhores! (ou não, se depender de empresários como estes...)

terça-feira, fevereiro 20, 2007

Floribella

Ele a olhar para o meu cabelo...

- Podias mascarar-te de Floribella...
- Não, não... aprender a coreografia para ensinar à mana, tudo bem... Mas mascarar não...

(Deus me livre... - eu a pensar - E se ele insiste muito e se faz aqueles olhinhos?... eu ainda aceito... desiste bebé, desiste, vá lá...) ...
- Não vês que a Shara já tá mascarada?
- De quê?
- De Shara bonita...
- Não parece nada...

Tá cada dia mais dificil de enganar, este miúdo...

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Há dias assim

Há dias em que, de nó na garganta apertado, apetece chorar. Sem um motivo especial. Chorar só. Por tudo e por nada. Chorar. Muito. Muito alto. Cair no chão de chorar, sem pressa para levantar de novo. Chorar de raiva, de saudade, de paz. Chorar de ti. Chorar por mim, por outros. Por aqueles que não conheço. Chorar pela minha impotência. Chorar até as lágrimas lavarem todas as feridas, todas as marcas deixadas dentro de mim pela gente e as deixadas dentro da gente por mim. Chorar a tensão e a atenção. A morte, a vida. Chorar por já não chorar. Chorar por ser e não ser perfeita, e por não querer ser. Nem perfeita nem imperfeita. Chorar o sofrimento e a alegria. Chorar o medo. Chorar a dor. A tua e a minha. Chorar até as lagrimas me sussurarem palavras de esperança. De fé. Chorar até gritar. Até sorrir. Até me abraçar forte e, com festinhas em mim mesma, consolar-me como mais ninguém consegue.

domingo, fevereiro 18, 2007

UnBorn

É possivel sonhar-se com os filhos que ainda não se teve (e não se planeia ter nos próximos tempos)?...
Incrivel como dou por mim a sorrir para qualquer criancinha que se atravesse no meu caminho, por mais ranhosa que esteja (e ultimamente tenho visto muitas criancinhas ranhosas)... como me apanho a sonhar com uma menina de olhos grandes e cabelo aos caracóis... ou com um menino mau como as cobras, daqueles que anda sempre com os joelhos esfolados...
Deve ser culpa da conversa do "relógio biológico" de sexta feira...
Pelo sim, pelo não... acho que vou arranjar um cão!

Duvidas Existenciais III

Porque é que toda a gente tem cara para usar franja à Cleopatra...
... menos eu?

sábado, fevereiro 17, 2007

Lil' Stá...

... So proud to look like a star to you ...

domingo, fevereiro 11, 2007

Primeiro voto

Hoje vou votar. Pela primeira vez. Nunca votei. Nem para legislativas nem para presidenciais. Nem sequer para a lista X ou J da associação de estudantes. Considero a politica uma palhaçada e nunca me dei ao trabalho de tentar entendê-la. Só votei algumas vezes em mim quando se queria escolher o delegado de turma ou a miúda mais gira da sala, mas votos em mim mesma não contam...
Hoje vou votar. Porque está em jogo o futuro das mulheres e crianças deste pedacinho de terra em que vivo. E seria injusto andar em lutas herculeas para mudar o mundo e não varrer primeiro o meu quintal.
Depois de muito ponderar, tirei a minha conclusão. Não foi uma decisão fácil. Não sou só a Shara humanista que considera injusto uma pessoa ter capacidade de decidir sobre o direito á vida de outra. Sou também a Shara mulher, que acha ridiculo prender-se uma mulher que fez um aborto, que sabe que as mulheres pobres fazem abortos cá e são penalizadas e as ricas fazem-nos fora e passam impunes ao mesmo crime. E o mau não é as pessoas com capacidade económica sairem impunes, é as que não a têm, serem criminalizadas. A Shara tendencialmente femininista que considera ainda mais ridiculo só se criminalizar e humilhar a mulher, como se fossemos todas leveduras e os nossos filhos fossem produto de geração espontânea. A Shara médica, que já se cruzou com casos dramáticos de abandono e maus tratos a recém nascidos e a crianças não desejadas mas que também já viu algumas dessas crianças indesejadas (muito poucas) serem entregues a familias que as querem muito, que já viu morrer mulheres depois de abortos mal feitos, mas que também já viu mulheres a utilizarem o aborto como método anticoncepcional. Sou a Shara que sempre sonhou ser pediatra, cujo sonho sempre foi contribuir para a saúde das crianças, não para a sua morte.
Foi uma decisão dificil mas acho que alguma coisa tem de mudar, por isso hoje vou votar.

Muita força e dói.

Eram três. Só um falava português.
- Como é que se chama?
- Singh.
- Ah, ok... e o outro senhor?
- Singh.
- Hmmm... Tá. E o outro senhor?
- Singh.
- Então e o que é que se passa para vir aqui?
- Dor. - vai dizendo enquanto aponta para as costelas do lado esquerdo - Muita força e dói.
Analgésico e relaxante muscular passado, e o "não convém beber" da praxe... passo para o segundo Singh.
Virada para o primeiro Singh, pergunto acerca do segundo:
- E o outro senhor, do que se queixa?
- Dor. - vai dizendo enquanto aponta exactamente para o mesmo sitio no outro senhor - Muita força e dói.
Novo analgésico e relaxante muscular. E reforço o "não convém beber", porque o cheiro a àlcool já denunciava que, à falta de comida, o bagaço (só dois copos, tem de ser, para aquecer e esquecer, dra) ia continuar a ser a refeição principal.
- E o outro senhor Singh, também é dor, não é?
- Não. Tosse.
E eu a crucuficar-me por ter tirado uma conclusão antes de saber as queixas do doente. Juro que ele ainda não tinha tossido uma única vez e estava mesmo com cara de quem tinha dores nas costelas.
Depois de auscultar, enquanto eu dizia que ele teria de ir ao centro de saúde ou ás urgências para tirar uma radigrafia, porque aquela auscultação estava feiosa, o primeiro Singh, reformulou:
- E dor. Muita força e dói.
Não acredito que tenha sido só para me fazer feliz. Acho que confrontado com visão de uma ida ao centro de saúde ou ás urgências que nunca se realizaria porque não há papeis para isso, os Singhs tiveram de optar pelo alivio do paracetamol.

Depois...

Depois de andar uma semana em stress porque me piquei numa agulha virada para cima na enfermaria...

(Sim, eu sei que pode acontecer a todos, que a minha profissão me obriga a assumir esses riscos e a lidar com eles, que a hipótese de me tornar HIV positiva é menor que 0,03%, mas isso não me deixou mais descansada. Só aquele bocadinho de papel, com menos para tudo o que era anticorpo e antigénio dos quatro eventuais donos do sangue, me fez acalmar.)

... E de pneumonias que não curam com antibióticos, dores que não passam com analgésicos, tumores que recidivam com quimioterapia, equilibrios hidro-electrolitricos completamente desiquilibrados...

... De doentes que "o querem" e de outros que não querem mas têm de o ser...

... Depois de relações amor-ódio que me levam ao limite...
... De ter a confirmação oficial da minha nota de exame...
...De mais uma semana de luta herculea e de "relaxa... achas mesmo que vais mudar o mundo?".

Depois disto, o domingo na minha barraca "nova", parece-me uma graça dos céus.